Desculpa Se Sou Puta -Parte 1 - Capítulo 3
Todos os castigos trazem um pecado antigo,
o meu agarrou-se às minhas pernas,
morde-as, beija-as, arranha-as numa caricia prepotente...
Um dia tomei uma decisão, mas as decisões não se deixam tomar
sem um namoro prévio...
Inês Dunas : A Fábula da Bela Adormecida e da cobra
http://librisscriptaest.blogspot.pt/2011/04/fabula-da-bela-adormecida-e-...
Após o choque inicial e após ter constatado que tanto o ciclista como eu estávamos bem, P. apressou-se a resguardar-me dentro do veículo, no lugar do pendura, daquela confusão, com a promessa a A. que me levaria ao hospital como precaução necessária após tal embate.
Eu, por mim estava pouco me ralando para o que quer que fosse. É certo que tanto o meu joelho direito como a minha cabeça doíam, mas sabia de antemão que este não era o momento de me armar em frágil.
Quando a situação se resolveu ele regressou imperturbável à viatura, batendo a porta delicadamente e enquanto punha o cinto explicou o seu plano:
-Eu penso que seja necessário ir ao hospital, no entanto se não quiseres…-Aconselhou ele a olhar para o rasgão que a bicicleta fizera no joelho esquerdo.
-Não quero! – Apressei-me a responder, escondendo com a mão esquerda o rasgão.
P. sorriu ao de leve e após uns segundos exclamou:
-Ok, levo-te a casa!
-Não está ninguém em casa. A minha mãe foi trabalhar.
-Bom, mas precisas desinfectar isso.
-Não tenho chaves de casa. – Menti eu sem saber o que raio dizia.
Os tremores no meu corpo continuavam e não eram devido ao choque mas á presença da mão dele sobre o meu joelho:
-Posso ver se está inchado?
-Como?
-Sou enfermeiro. Só pretendo apalpar
-Sim. – Consenti eu nervosa.
Senti o suave aperto da mão sobre a rótula, senti o polegar a mexer em círculos e senti o aftershave dele a invadir os meus sentidos. Ironia das ironias era igual ao que o meu pai sempre usava o “Chrome” da Azarro, o frasquinho azul com que eu brincava nas mãos enquanto o via a fazer a barba, naquele modo tão solene próprio de quem realiza uma tarefa importante. Inadvertidamente pousei a mão sobre a dele e gemi, mais de prazer que de dor.
Estava absolutamente descontrolada e talvez tenha sido por isso que finquei as unhas na sua mão
-Dói? – Indagou ele preocupado.
-Não…- Respondi apressadamente.
Por segundos os nossos olhos se cruzaram e estava perfeitamente à espera de tudo. Naquele preciso momento não uma criança frágil, magoada devido a um acidente parvo e encharcada pela chuva e pela queda. Ali, nesse instante eu era uma mulher assediada por um homem charmoso e capaz das maiores loucuras. Instintivamente dei-lhe um beijo ao de leve no pescoço e imediatamente me arrependi. O gesto pareceu de certa forma o ter assustado, pois sentou-se muito direito e arrancou com o carro, olhando em volta como se estivesse com receio de ter sido visto a ser beijado.
Enquanto circulávamos a pouca velocidade ia pensando no que dizer ou no que fazer. Pela segunda vez na presença de um cota não tinha qualquer reacção. Embaraçada e envergonhada pensei em pedir desculpas, em lhe explicar que foi o seu perfume que me levou aquele acto, mas em vez disso, soltei:
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