My lady blues
O teu olhar é uma auto-estrada que acaba no meu horizonte…
Ao fim de mim guardo o tudo de tudo que em ti me nasceu.
Resumir-te a seres minha era o nada de tanto que és.
E conhecer-te inteira era um peito vazio que encerraria o passado.
Aqui te guardo…
Junto ao perfume das cartas que trocamos sentidas.
Tu és o que eram os sonhos…
Os livros e os filmes sentados no chão,
o kerouak e eu numa poeira de música
ou as rosas vomitadas na garganta do gowan
e tu a dançar…
Os borrões a girarem no pavilhão do “Dramático”
E o Peter Gabriel a cantar para nós…
“Climbing up sollsbury hill
I could see the city light”…
E mundo tinha princípio, e o fim...
Era uma fronteira que transbordava de esperança
na seda de um acorde dos Stones.
Confesso que és isto e não terminas em ti…
Como chuva…
E tu na faculdade a cativares revoluções.
Eu na alameda depois do trabalho, encharcado.
E a greve, as palavras de ordem,
os teus Gandhi´s, os Guevaras com o meu amor nos tempos de cólera.
Amava-te, amo-te assim sem mais nem porquês,
mesmo que não te achasse parecida com Audrey Hepburn,
mesmo que o teu Guevara não fosse o meu Lenine
e ainda que insistisses em ser do Benfica só para me gozares,
amava-te e amo-te como tempo que foi.
Os sábados na feira da ladra depois do “bar do loucos”,
do “Gingão”…
Eras o sol numa cidade de fado...eras o meu "blues".
E nós ali, a ver o dia germinar no Jardim S.Pedro de Alcântara…
A Fecundar gemidos numa pensão da baixa,
trémulos a enrolar lençóis no rubor dos lábios que se tocavam em orgasmo…
amo-te…e depois?
E depois…
O adeus...sem armas e sem Hemingway.
Quando fui.
E pensavas que era para sempre dorida de lágrimas, a sofrermos...
Tanto...
Mas até aí eu te amava.
Sabes que pareciam socos no estômago?
Eu e tu numa cena quase "felliniana" a adivinhar as certezas,
porque os cem anos de solidão estavam na tua casa,
na estante do teu quarto, no teu coração…
Voltei para lê-lo, para te ler, para te ver, para dançar a “valsinha”,
depois da “opera do malandro”…
Achas que conseguia viver sem o Buarque,
sem o Djavan a pintar de lilás, a estação do rossio
sem os vinis, sem o Satre, sem os camaradas,
sem os Velvet Underground... sem ti magic woman?
Voltei num eléctrico chamado desejo e deixei o lodo que de mim
restava, no cais das colunas.
Agora o abraço sabe a tudo o que fomos e é enorme como o passado.
Sei que és isto e não terminas em ti.
Hoje consigo ver nos teus olhos, tudo…
Porque o teu olhar é uma auto-estrada que acaba no meu horizonte...
Ao fim de mim, guardo o tudo de tudo que em ti me nasceu…
Amor.
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 525 reads
Add comment
other contents of Lapis-Lazuli
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
![]() |
Fotos/Profile | 3517 | 1 | 4.369 | 03/13/2018 - 20:32 | Portuguese |
Poesia/Aphorism | In Vapore Sano | 4 | 3.425 | 03/13/2018 - 20:32 | English | |
Poesia/Aphorism | Era só isto que eu queria dizer | 1 | 3.111 | 02/27/2018 - 09:22 | English | |
Poesia/Aphorism | salgo :33 Isaías sonha que aos fala aos camones | 0 | 2.614 | 06/20/2014 - 14:41 | English | |
Poesia/General | Boca Do Inferno | 0 | 6.083 | 07/04/2013 - 21:44 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | veludo | 3 | 3.156 | 05/15/2013 - 16:34 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Segundo Reza a Morte | 0 | 2.922 | 10/04/2011 - 16:19 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Fumo | 0 | 2.908 | 09/23/2011 - 11:00 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | De olhos fechados | 3 | 3.265 | 09/20/2011 - 21:11 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Tundra | 0 | 2.809 | 09/20/2011 - 15:36 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Vazio | 3 | 2.909 | 09/16/2011 - 10:00 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Intento | 0 | 2.410 | 09/05/2011 - 15:52 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Palma Porque sim...Minha Senhora da Solidão | 0 | 2.737 | 08/29/2011 - 10:13 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Editorial | 0 | 3.038 | 08/29/2011 - 10:08 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Ermo Corpo Desabitado | 0 | 2.932 | 08/29/2011 - 10:04 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Dos passos que fazem eco | 1 | 2.604 | 06/21/2011 - 21:06 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Autoretrato sem dó menor | 3 | 4.283 | 03/28/2011 - 22:34 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Todo o mundo que tenho | 2 | 2.918 | 03/09/2011 - 07:23 | Portuguese | |
![]() |
Fotos/Profile | 3516 | 0 | 4.896 | 11/23/2010 - 23:55 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Profile | 3518 | 0 | 4.514 | 11/23/2010 - 23:55 | Portuguese |
![]() |
Fotos/Profile | 2672 | 0 | 5.861 | 11/23/2010 - 23:51 | Portuguese |
Prosas/Others | A ultima vez no mundo | 0 | 3.022 | 11/18/2010 - 22:56 | Portuguese | |
Prosas/Others | Os filhos de Emilia Batalha | 0 | 3.246 | 11/18/2010 - 22:56 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | Veredictos | 0 | 2.908 | 11/18/2010 - 15:41 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | Nada mais fácil que isto | 0 | 2.950 | 11/18/2010 - 15:41 | Portuguese |
Comments
Re: My lady blues
Lindo poema!
Gostei muito! Parabéns!
Um abraço,
REF
Re: My lady blues
LINDÍSSIMO POEMA, GOSTEI MUITO!
Hoje consigo ver nos teus olhos, tudo…
Porque o teu olhar é uma auto-estrada que acaba no meu horizonte...
Ao fim de mim, guardo o tudo de tudo que em ti me nasceu…
Amor.
Meus parabéns,
Marne