ENTROPIA MONETÁRIA

Se a música me embala e a cantiga vem, me nina!
Se o cheiro do incenso me domina e a mágica me cala.
Num susto pelo álcool que embriaga, absinto em meu soluço!
É a droga que me fere e me fareja, quase minto!

Sabem assim, dessas mensagens tão sublimes
Que me estudam os detalhes dos sentidos
Embaralhando meu desejo a um abismo,
Gritam que eu salte! Mas por favor, não me maltrate!

Se a energia quando eu compro é cara,
Já quando vendo se traduz em meu salário.
Entropia monetária? Quem se apropria?

Obedeço a um principio claro!
Trabalho!

Minha força não se mede em joules
Perde-se em física jornada,
Contam horas de entrega e me pedem
Mais um samba, mais um trago

Um crime é cometido contra o caráter
Em minha tábua entalham leis com a chibata
Guardas me calam... Dai-me a cachaça!

Se o sino da igreja marca as horas nos badalos
Me engana o padre, quando falo de pecados
Sendo a bíblia um engodo genocida, então me calo!

A fábrica marca o tempo num apito
Meu patrão é um monarca, devo-lhe a vida!

Se as bandeiras da torcida se maltratam
E os dois times em verdade, são o mesmo!
Quem desejo ver metendo a mão na taça?

Na TV passa um programa apelativo
E como obvia reação eu me masturbo.
Dai-me mais dessa piada, somos o circo!
Cerquem os soldados, metam na jaula!

Meus instintos se enroscam em cada esquina
E como peixes, mordem iscas, eles me fisgam
E me desvio de mim mesmo, e me procuro!
Por mais que pense, quase macaco. Me domesticam!

Se os estandartes de minha escola se descolorem
Ao perceber meu carnaval nascer do crime
Em quem confio?

Tudo que passa, cobre um pouco meu domínio!
Em meu pulso um relógio me retarda!
Raízes velhas, quase invisíveis são violadas...
Como faço? Como entendo tudo isso?

E o poema, como sai dessas amarras?
Seqüestrado, preso em algemas! Arrebentado!
Sempre caio em armadilhas! Elas são lindas!

E a alma? Que resgate é exigido!
Como trago? Se a fumaça fecha os olhos de meus filhos!
Como toco aquela pérola escondida, no infinito?

Um represa se constrói em nosso rio!
Quase um incêndio na floresta de meu instinto!

Se o universo trama e conspira...
As borboletas batem asas na Austrália
O que eu tenho a ver com tudo isso!?
Se lá na Grécia, tem um povo que batalha
Me tocam pedras Palestinas, vindas das fundas!

Se os búzios se contorcem no balaio e contradizem
O que sinto aqui no peito, bem no fundo...
E me revolto! Meio confuso!

Essas idéias vêm assim tão primitivas
E me assaltam bem de leve, como libélulas!
Me incomoda uma pontada dentro da carne
Vem perfurando minhas camadas, como um dardo
Em meu alvo... Em minhas células! Como um berne!

Sem mais silencio, nem se camufla... Me desafia!
Tal qual mística esfinge...
Dor de cabeça!

E o perfume da senzala regozija em minha alma e nas narinas!
E pela noite meu cavalo vai relinchando solto no pasto!
Do oceano vem uma brisa... A tempestade!
Algo me diz que liberdade é mais que isso!

Mas o que faço?

Se a musica me embala... O álcool me embriaga... O meu time mete a mão na taça... Minha escola vai para o samba desinibida... Dança a mulata, decotes fartos... E meu sorriso faz-se sem pressa... Vai meu poema, cambaleado pela cachaça!

Submited by

Friday, October 7, 2011 - 15:50

Poesia :

No votes yet

marcelocampello

marcelocampello's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 11 years 8 weeks ago
Joined: 03/02/2011
Posts:
Points: 310

Add comment

Login to post comments

other contents of marcelocampello

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Meditation A história da cabeça que fugiu dos pés! 4 1.468 06/10/2012 - 22:03 Portuguese
Poesia/Meditation The story of a head that ran from its feet 0 1.925 06/10/2012 - 12:07 English
Poesia/General Dr. Jekyll: Pb > Au 0 1.626 12/12/2011 - 11:26 Portuguese
Poesia/General Cavaleiro de Copas 0 1.690 12/09/2011 - 19:40 Portuguese
Poesia/Intervention BELO MONTE 0 1.427 12/09/2011 - 19:03 Portuguese
Poesia/General Gilliat e Deruchete 1 2.571 12/01/2011 - 18:42 Portuguese
Poesia/General Pessoas são como países (reeditado) 0 1.454 10/25/2011 - 14:47 Portuguese
Poesia/General PESSOAS SAO COMO PAISES 0 1.410 10/25/2011 - 14:41 Portuguese
Poesia/General ENTROPIA MONETÁRIA 0 1.687 10/07/2011 - 15:50 Portuguese
Poesia/General MORO NESSA CASA VAZIA 0 1.597 10/07/2011 - 15:46 Portuguese
Poesia/Fantasy Amores e Mamutes 4 1.580 04/30/2011 - 16:59 Portuguese
Poesia/Friendship Jocasta, Amelie Poulain e Lili Carabina 2 2.149 04/28/2011 - 20:40 Portuguese
Poesia/General A MENINA NA CAVERNA 0 1.924 04/27/2011 - 15:16 Portuguese
Poesia/General O Eco, a Sombra e as Estrelas 1 2.099 04/27/2011 - 03:48 Portuguese
Poesia/General FANTASIA MIGRANTE 3 1.715 04/19/2011 - 19:00 Portuguese
Poesia/General Canção em Espiral 1 1.391 04/16/2011 - 04:08 Portuguese
Poesia/General Tropa serena 0 2.096 04/16/2011 - 01:52 Portuguese
Poesia/General Desculpai-me insetos! 2 2.218 04/13/2011 - 22:52 Portuguese
Poesia/General Algum abandono previsível! 3 1.876 04/12/2011 - 14:02 Portuguese
Poesia/General Mom made a doll 0 1.673 04/09/2011 - 23:18 English
Poesia/General Jocasta, Amelie Poulain e Lili Carabina 0 2.265 04/09/2011 - 16:18 English
Poesia/General The poem's not love 0 1.694 04/09/2011 - 16:17 English
Poesia/General Adrift 0 2.054 04/09/2011 - 16:16 English
Poesia/General Encerrai a cavalgada! 2 1.522 04/09/2011 - 11:51 Portuguese
Poesia/General Passou o tempo querida! 6 1.644 04/05/2011 - 12:33 Portuguese