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Alfama
Ardem-me os olhos num delírio de cores...
Os risos...são adolescentes cristais indolentes e execráveis.
Por aí, na noite, vou fugir para ser autêntico e vadio como um fado.
Vagueio por uns tintos ás tantas.
Sepulcrais bocas escorbúticas sangram gemidos de guitarras viúvas.
Os velhos, são marujos extintos nas gorjetas da noite.
Atasco em tascas a defumar aguardentes enquanto lá fora perfuma o verão...
A cidade, é uma caravela embriagada enegrecida no rio.
Por estas calçadas há séculos adormecidos nos lancis dos passeios...
Perscrutam ventres devassos, que amarguram autos de fé, em sandálias pobres e tristes.
Os becos são lodos sombrios em ameaças de verde...
Perna lúbrica de varina de seios voluptuosos nas Escadinhas do Terreiro do Trigo...
Possuídas por mirares ébrios, em fundações amnésicas, de nostalgia e mágoa.
São as ladainhas das trevas, no peito aprisionado dos justos...
Que plantaram cravos de sangue nas grades tirânicas do Aljube.
Miligrama de liberdade, quando a Sé entristecida se consome em rezas de náusea...
Ajoelhada e penitente, ao esplendor da primavera,
que arruína os cativeiros onde antes morava o grito.
Tenho cigarros amarfanhados como vergonhas que se escondem,
no Largo Chafariz de dentro...
Minha boca a madrugada arde em lágrimas salgadas num bafio de sol e vento.
Adormeço enfeitiçado por uma moira encantada, num quarto de hora desatento.
A este que não teme a deus nem ás suas feitorias, entrepostos e milagres...
Tenho o cheiro das sardinhas a acordar-me em maresias no arrojo altivo das aves...
No Miradouro de Santa Luzia,
Nos escombros da noite acabada em dia,
Onde minha alma escoa...
Um abraço de Alfama num contemplar que ama...
O Tejo a namorar Lisboa.
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Comentários
Re: Alfama
Onde minha alma escoa...
Um abraço de Alfama num contemplar que ama...
O Tejo a namorar Lisboa.
LINDO POEMA, GOSTEI!
Marne
Re: Alfama
Parabéns pelo lindo poema.
Gostei.
Um abraço,
REF
Re: Alfama
Profundo, desesperado,mas o amor vence os intempéries , não é mesmo?? PArabéns!! Abrasss