MEA CULPA
Viver-me
é um medonho quanto,
um desmaio do chão ao céu espanto.
Ausência é o que não fiz.
Sentir-me
é um quesito
mesquinho de tempo,
mea culpa de Satanás amnistiado.
Ruído é o que não disse.
O caminho do ser
medra aos pés noivados
de pão e vinho à boca das covas.
Rés vezes
de pedra soletrada
em luar de proa sem barco,
parco estar este não sei onde ser.
Saudade é a distância que não pisei.
Padece a fantasia
no covil dos cornos
que se abaixam açoite
na cicatriz de folhas em branco.
Solidão é os risos que não dei.
Adormece a noite
cantada de acontecer,
o dia folga na maré da alma
onde o corpo fica esquecido além por ir.
Atlântidas por descobrir
são Midas no meu dormir.
Sono é o que não amei.
Idas sem volta,
diabos à solta na frieza dos lábios,
desertos sábios ensinam a palavra infinito.
Acendo ascender à morte.
Ventos pavios,
violinos navios a navegar o norte.
Sabedoria é o que não sei.
Sobram sombras
no berço da voz quando o silêncio
é um rio parado na viuvez das margens.
Amores são viagens pela imortalidade.
Tropelia é o que não decidi.
O sol é um sapato
que trago calçado para sonhar.
Acordar é uma pedrinha
que me descalça dos sonhos.
Eu é quem não conheço.
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 1421 reads
Add comment
other contents of Henrique
Topic | Title | Replies | Views | Last Post | Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Sadness | O ADEUS É A ESCURIDÃO DO ESCURO … | 2 | 3.256 | 10/08/2012 - 05:39 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | MEU GRITO É UMA MÃO CANSADA … | 1 | 1.357 | 10/05/2012 - 18:11 | Portuguese | |
Poesia/Passion | NÓS ENTRE NÓS … | 0 | 829 | 10/05/2012 - 00:40 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | O SILÊNCIO DAS LÁGRIMAS … | 0 | 1.014 | 10/02/2012 - 21:41 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | MINHA ALMA É UM MAR DE AMOR … | 0 | 1.002 | 09/30/2012 - 23:46 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | ENGODO … | 1 | 1.407 | 09/29/2012 - 20:20 | Portuguese | |
Fotos/Others | Paula Teixeira da Cruz ... | 0 | 1.016 | 09/29/2012 - 17:04 | Portuguese | |
Poesia/Love | TENHO TU … | 0 | 1.930 | 09/28/2012 - 21:20 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | DOIDICE … | 0 | 1.452 | 09/25/2012 - 21:12 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | O AMOR MORDE O SILÊNCIO … | 0 | 1.397 | 09/23/2012 - 21:42 | Portuguese | |
Poesia/Intervention | QUE A MORTE NOS MATE … | 0 | 1.397 | 09/20/2012 - 16:53 | Portuguese | |
Poesia/Passion | UMA LENHA TUA … | 0 | 872 | 09/19/2012 - 22:58 | Portuguese | |
Poesia/Passion | ATÉ QUE A NUDEZ SEJA A ÚLTIMA ROUPA … | 0 | 1.024 | 09/18/2012 - 16:07 | Portuguese | |
Fotos/Landscape | A Queda do Sol ... | 0 | 1.651 | 09/18/2012 - 16:02 | Portuguese | |
Fotos/Others | Cortante ... | 0 | 1.342 | 09/18/2012 - 15:59 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | PALAVRAS DE VASTO SILÊNCIO … | 0 | 3.025 | 09/12/2012 - 20:12 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | O SER DAS COISAS DAS COISAS DO SER … | 1 | 890 | 09/11/2012 - 17:02 | Portuguese | |
Poesia/Passion | SOLETRA-ME NOS TEUS SEGREDOS … | 0 | 2.029 | 09/06/2012 - 18:54 | Portuguese | |
Fotos/Landscape | Subir Sem Perder O Chão ... | 0 | 1.325 | 09/04/2012 - 19:01 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | BICHO COM SETE CABEÇAS DE BICHO … | 0 | 1.683 | 09/04/2012 - 18:45 | Portuguese | |
Fotos/Digital Art | Inveja ... | 0 | 2.570 | 09/04/2012 - 13:13 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | JUBA DE URTIGAS … | 0 | 1.754 | 09/02/2012 - 21:40 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | LUGAR DE OLHOS … | 0 | 580 | 09/02/2012 - 19:02 | Portuguese | |
Poesia/Passion | NUM TOQUE, O TODO DO TEU DESEJO … | 0 | 1.926 | 09/01/2012 - 23:14 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | GRITO … | 0 | 1.743 | 09/01/2012 - 18:56 | Portuguese |
Comments
Re: MEA CULPA
"Viver-me
é um medonho quanto,
(...)"
E quanto é medonho viver ascendendo a morrer, quando as tropelias dos sonhos são hipérboles apendicites que rasuram os sapatos do sol.
"Eu é quem não conheço", mas conheço o que agora diz aqui, o efémero trago que engole o mundo e o devolve deformado.
Gostei do poema
:-)
Re: MEA CULPA
henrique,
Destaque:"Acordar é uma pedrinha
que me descalça dos sonho" uma verdade.
Obrigada pelo texto que li e bebi com prazer
Abraço