Sem Disfarces

O futuro, ... ancião visionário, nos espia
É um velho que nos mira pelas frestas
Nós, ninfetas, mal saída bêbadas das festas
Penso que me desnudava, quando ele, em verdade, me despia

Esse sábio senhor me embriaga
Escolhendo os pós entorpecentes dos temperos
Dopa-me com sua mística cabala, nas veredas
Saindo da primeira infância, me embala

O futuro, belíssimo senhor de elegantes trajes
Umedece meus pelos ainda mal crescidos
Suam minhas pernas ligeiras, suaves beijos
enrijecem-me dos seios, os mamilos
.
Ao homem maduro, sinto que me traga...
Suga-me como a longa aspirada em seu cigarro... fuma-me
Mordo os lábios...

Vibra, em mim, sonoríssimo badalo
Exploro, feiticeira, metralhada bomba...
Expludo por inteira, tenho as pernas bambas...
Finalmente em êxtase profundo, víbora... calo!

O futuro... herói de todas as batalhas...
Feroz, me devora parte a parte... rompe-me as carnes
Rouba-me a roupa... em transe exige a última mortalha...
Entrego, totalmente possuída, Finalmente o sangue...

Me espiona, não imagino de que plano me observa... mas observa...
Sinto que conserva o olhar fixo, como o cão que caça...
Sim, o futuro... esse paciente camarada que concede vida ao sonho...
Que permite construí-lo, sem que ainda exista...

Fecunda-me a razão cotidiana de possibilidades plenas de superação!
Anuncia as letras escarlates da história que escreveremos com o próprio sangue
(isso ele exige sem piedade)

O Futuro nos deseja, obcecado... assim como o desejamos, obscenas!
Nos aprecia com mãos delicadas, nos amassa, abraça, esparrama sua fertilidade...
Nutre-se de nossa chama, chama-nos pelo nome da tradição antiga,
convoca-nos à mais forte determinação... a realidade!

Assim.., mal nos saboreia, vai em busca de um outro amanhecer enluarado.
Finalmente parimo-lo... damos a luz àquele que nos seduz...
Erguemo-lo, construímo-lo!

Lapidamos mármores com a saliva e o trabalho...
A marca de nossas mãos em cada célula desta velho de barro.
E nós, jovens infantes, gratas ao peso da barriga... martelando a foice na bigorna!
Damos seqüência à belíssima obra humana...
Descansamos finalmente... nos braços apaixonados de nosso amado, o Presente!
Cuidamos com carinho, de mulheres e homens, os filhos ausentes... o Passado!

Submited by

Thursday, March 3, 2011 - 18:01

Poesia :

No votes yet

marcelocampello

marcelocampello's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 11 years 51 weeks ago
Joined: 03/02/2011
Posts:
Points: 310

Add comment

Login to post comments

other contents of marcelocampello

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Meditation A história da cabeça que fugiu dos pés! 4 1.796 06/10/2012 - 21:03 Portuguese
Poesia/Meditation The story of a head that ran from its feet 0 2.348 06/10/2012 - 11:07 English
Poesia/General Dr. Jekyll: Pb > Au 0 1.889 12/12/2011 - 10:26 Portuguese
Poesia/General Cavaleiro de Copas 0 1.983 12/09/2011 - 18:40 Portuguese
Poesia/Intervention BELO MONTE 0 1.635 12/09/2011 - 18:03 Portuguese
Poesia/General Gilliat e Deruchete 1 2.853 12/01/2011 - 17:42 Portuguese
Poesia/General Pessoas são como países (reeditado) 0 1.717 10/25/2011 - 13:47 Portuguese
Poesia/General PESSOAS SAO COMO PAISES 0 1.673 10/25/2011 - 13:41 Portuguese
Poesia/General ENTROPIA MONETÁRIA 0 1.874 10/07/2011 - 14:50 Portuguese
Poesia/General MORO NESSA CASA VAZIA 0 1.823 10/07/2011 - 14:46 Portuguese
Poesia/Fantasy Amores e Mamutes 4 1.753 04/30/2011 - 15:59 Portuguese
Poesia/Friendship Jocasta, Amelie Poulain e Lili Carabina 2 2.443 04/28/2011 - 19:40 Portuguese
Poesia/General A MENINA NA CAVERNA 0 2.168 04/27/2011 - 14:16 Portuguese
Poesia/General O Eco, a Sombra e as Estrelas 1 2.327 04/27/2011 - 02:48 Portuguese
Poesia/General FANTASIA MIGRANTE 3 1.925 04/19/2011 - 18:00 Portuguese
Poesia/General Canção em Espiral 1 1.599 04/16/2011 - 03:08 Portuguese
Poesia/General Tropa serena 0 2.422 04/16/2011 - 00:52 Portuguese
Poesia/General Desculpai-me insetos! 2 2.477 04/13/2011 - 21:52 Portuguese
Poesia/General Algum abandono previsível! 3 2.078 04/12/2011 - 13:02 Portuguese
Poesia/General Mom made a doll 0 1.939 04/09/2011 - 22:18 English
Poesia/General Jocasta, Amelie Poulain e Lili Carabina 0 2.715 04/09/2011 - 15:18 English
Poesia/General The poem's not love 0 2.071 04/09/2011 - 15:17 English
Poesia/General Adrift 0 2.325 04/09/2011 - 15:16 English
Poesia/General Encerrai a cavalgada! 2 1.700 04/09/2011 - 10:51 Portuguese
Poesia/General Passou o tempo querida! 6 1.838 04/05/2011 - 11:33 Portuguese